Metade dos consumidores recorreu ao crédito em agosto, aponta indicador CNDL/SPC Brasil
44% dos entrevistados usaram cartão crédito no período e 38% têm a percepção de que os juros estão mais altos. Três em cada dez brasileiros reconhecem estar no vermelho
A maior disponibilidade de crédito oferecida pelas instituições financeiras tem levado o consumidor a usar cada vez mais algum tipo de modalidade, seja empréstimo, financiamento, crediário ou cartão de crédito. Dados do Indicador de Uso de Crédito, apurado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), revelam que 49% dos brasileiros recorreram ao crédito em agosto, representando um aumento de 8 p.p na comparação com o mesmo período do ano passado. Em contrapartida, 51% dos entrevistados disseram não ter utilizado nenhuma modalidade no mês de referência.
O Indicador, que busca medir o uso das principais modalidades de crédito pelo consumidor, atingiu de 32,4 pontos em agosto ante 30,8 pontos registrados em julho. A média histórica do indicador é de 28,3 pontos e desde março deste ano, tem se mantido acima dos 30 pontos. O resultado de agosto representa um avanço de 1,9 pontos percentuais frente a janeiro deste ano e de 4,5 pontos percentuais desde o início da série histórica, em janeiro de 2017. Pela metodologia, o indicador varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, maior o uso das modalidades; quanto mais distante, menor o uso.
Na avaliação do presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, os dados do Banco Central mostram um aumento de 11% em 12 meses na concessão de crédito para o consumidor, chegando a R$ 1,9 trilhão em agosto, o que contribui para o número de pessoas que utilizaram crédito alcançar o maior patamar desde janeiro de 2017. “Com o cadastro positivo em operação e a expansão da atuação das fintechs, o mercado de crédito deve entrar em um novo momento, o que permitirá crédito mais abundante na economia, com taxas de juros menores “, explica.
Cartão de crédito continua na liderança entre as modalidades preferidas dos brasileiros; consumidor recorre cada vez menos ao crediário em loja
A principal modalidade de crédito utilizada pelos brasileiros continua sendo o `dinheiro de plástico´, citado por 44% dos consumidores. Em segundo lugar aparece crediário (11%) e em terceiro, empréstimo (8%). Outros 7% mencionaram o cheque especial e 5% os financiamentos.
De acordo com o levantamento, o cenário de acesso ao crédito confirma a importância dos cartões: quase um em cada dois consumidores (47%) possui cartão de crédito. Já 19% afirmaram ter limite disponível de cheque especial, 18% crediário de loja, 16% financiamentos com parcelas a vencer e 14% empréstimos. Quanto ao número de consumidores que possuem crediário em loja, houve uma queda expressiva de 10 p.p entre janeiro de 2017 e agosto deste ano — passando de 28% para 18%.
No caso do cartão de crédito, a sondagem aponta ainda que 79% pagaram a fatura integralmente, ante 20% que entraram no rotativo em agosto, mês em que os juros da modalidade atingiram 307,2% ao ano. O valor médio da fatura foi de R$ 779,18, sendo que para 32% dos consumidores houve uma alta em relação aos valores de julho, para 41% foi mantido um gasto aproximado e para 23% aconteceu uma redução.
As despesas básicas foram as mais realizadas com cartão de crédito: 67% dos entrevistados citaram compra de alimentos e 49% gastos com remédios. Também foram mencionados gastos com aquisição de roupas e calçados (41%), combustível (40%) e ida a bares e restaurantes (33%). Outro destaque é o crescimento das assinaturas de serviços, como streaming e revistas, que passou de 15% em janeiro para 28% em agosto.
Um em cada dez entrevistados teve crédito negado, principalmente por estar negativado; 60% acharam difícil obter financiamento
Mesmo com esse avanço, a sondagem constatou uma certa dificuldade na obtenção de crédito. Entre os consumidores ouvidos, 14% tiveram crédito negado em agosto, principalmente por estarem com nome nos cadastros de devedores (4%) ou por falta de comprovação de renda (3%). Por outro lado, 3% não foram informados sobre o motivo da recusa e, portanto, não souberam declarar qual o motivo.
A dificuldade em obter crédito é reafirmada por outros números constatados pelo levantamento. Para a maioria dos entrevistados, o financiamento é uma modalidade difícil de obter aprovação (60%). A busca por um empréstimo vem na sequência, com 53% das menções; ao passo que 36% avaliam como complicado conseguir um cartão de crédito. Já no caso das compras no crediário, 35% classificam como difícil a sua contratação.
“Há uma limitação nos modelos atuais de análise e de concessão de crédito, que atribui um peso maior na existência ou não de apontamentos de inadimplência, o que torna o acesso ao crédito mais difícil para uma grande massa de consumidores”, explica Pellizzaro Junior.
38% dos consumidores têm a percepção de que os juros aumentaram; três em cada dez brasileiros reconhecem estar no vermelho
Mesmo diante das sucessivas quedas dos juros, quatro em cada dez consumidores (38%) têm a percepção de que houve uma alta nos juros de empréstimos, financiamentos e cartões de crédito nos últimos três meses. Por outro lado, 27% acreditam que os juros continuam estáveis e apenas 4% acham que as taxas caíram. Essa sensação de alta deve-se ao fato de que, apesar da taxa de juros básica (Selic) estar no menor patamar da série histórica, os juros na ponta para o consumidor estão ainda muito elevados no país.
Quando questionados sobre a sua realidade financeira, 44% afirmaram estar no zero a zero, ou seja, não sobra nem falta dinheiro. Enquanto 28% reconheceram estar no vermelho e 20% no azul. Entre os consumidores no vermelho, a maior parte (43%) justifica ter se endividado em razão do aumento de preços. Além disso, 28% explicam que tiveram diminuição na renda, 20% perderam o controle dos gastos e outros 19% perderam o emprego.
Metodologia
O Indicador abrange 12 capitais das cinco regiões brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamente 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 800 casos, foi composta por pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais